sábado, 5 de novembro de 2011

Lavra'dor


(Pintura de Candido Portinare)


O que se faz com a fome que assola o mundo inteiro?
O que fazer com a magoa plantada em meio a tantos dias felizes?
Mil pedidos de desculpa ao paupérrimo que a terra devora,
Mil pedidos de desculpas a mãe tristonha que de baixo do sol chora.
Daquelas mil rosas roubadas pelo poeta exagerado
Queria uma para redimir minhas palavras ditas em vão,
Para medir minha fraqueza diante de ti,
Para regá-la em meu pobre chão
Queria não mais plantar a vergonha em meu quintal
Queria não saltar mais sobre a ponte de desafios, e gritar ao mundo que estou perdido
Quero poder voar em ares coloridos, sentir a terra molhada sobre meus pés,
Quero me embalar com toda forca em minha rede e mergulhar em novos rios.
E assim o triste sonho de um pobre poeta lavrador.
Poeta este que rega a terra com seu suor, com suas secas lágrimas,
Poeta que lavra a terra com a dor
É assim, nobre poeta lavra’dor.

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